segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

On the Road


Quando tinha uns 15 ou 16 anos, tive uma epifania: "Um dia eu vou morar sozinha." Achava o máximo ser uma mulher independente, dona do seu próprio nariz. Inclusive tracei planos, junto com outra amiga: "Primeiro vamos nos formar, depois arranjar um emprego legal, depois morar sozinha, arranjar um cara legal... " e por aí vai.
Quando estava com 26 ou 27, resolvi concretizar meus planos e anunciei: "Vou morar sozinha." Ouvi de tudo, desde "Que legal, vai ser ótimo pra você!", até o "Mas como você vai se virar sozinha?", ou o mais comum "Por que?". Resumindo a história, depois de conquistar o apoio familiar, que era o único que realmente importava, em 2004 comprei meu apê. Pequeno, cheio de problemas, velho, mas meu. E foi uma das melhores decisões que já tomei na vida. E só pra constar: me virei muito bem sozinha.
Hoje, me encontro com outra decisão polêmica: "Vou viajar sozinha". O mais engraçado é ouvir as reações das pessoas a essa frase: "Cara, você é mais louca do que eu pensava!", essa é a mais comum, seguida por: "Nossa, mas você não tem medo?" e por aquela mais antiga: "Por que?".
Bom, que eu sou louca eu já sabia (apenas os mais próximos sabem dessa verdade, não espalhe). Se eu tenho medo? Tenho muitos medos: será que meu inglês é suficiente? Será que as pessoas vão ser gentis comigo? Vou me sentir solitária? Como vou aparecer nas fotografias? Entre outras... Agora, por que estou fazendo isso? Simples, porque eu quero.
Porque adoro viajar. Porque aprendi que tenho que agarrar as oportunidades que a vida me dá. Porque quero conhecer lugares diferentes, pessoas diferentes, e perceber que o mundo não gira em volta do nosso umbigo. Mas principalmente, pra descobrir todas as Renatas que existem dentro dessa pessoa louca aqui.
Como diria Mark Twain: “Daqui vinte anos, você estará mais desapontado pelas coisas que não fez que pelas que fez. Então, solte as bolinas e navegue para além da segurança do porto. Deixe o vento te levar. Explore. Sonhe. Descubra”.



sábado, 3 de setembro de 2011

Aprendi novas palavras, e tornei outras mais belas.

Canção Amiga" é um poema de Carlos Drummond de Andrade que expressa o ideal de construir uma poesia capaz de despertar a consciência dos adultos e ao mesmo tempo, seja uma canção de ninar para as crianças. 


Ser capaz de tocar a mente dos adultos e o coração das crianças. Acho que esse é um dos maiores objetivos que se pode ter. Seja através da poesia de qualquer outra forma de arte. Cada um se expressa como pode, fazendo música ou teatro, dançando ou escrevendo, todo fazer artístico é importante.

Então, artista amigo, cante, dançe, declame, escreva, se expresse da forma que puder. Vamos tentar acordar os homens e adormecer as crianças.

"Canção Amiga" foi musicada por Milton Nascimento e está no CD Clube da Esquina 2.

"Eu preparo uma canção 
em que minha mãe se reconheça, 
todas as mães se reconheçam, 
e que fale como dois olhos. 



Caminho por uma rua 
que passa em muitos países. 
Se não me vêem, eu vejo 
e saúdo velhos amigos.



Eu distribuo um segredo 
como quem ama ou sorri. 
No jeito mais natural 
dois carinhos se procuram. 



Minha vida, nossas vidas 
formam um só diamante. 
Aprendi novas palavras 
e tornei outras mais belas. 



Eu preparo uma canção 
que faça acordar os homens 
e adormecer as crianças."


Aos meus amigos do Coral Zanzalá.

domingo, 12 de junho de 2011

O essencial é invisível aos olhos


Desde criança não via o filme “O Pequeno Príncipe”, de Stanley Donen, baseado na obra de Antoine Saint-Exupéry. Nunca havia lido o livro até uns meses atrás, e óbvio, se tornou um de meus favoritos.

A beleza, pureza e simplicidade do texto comovem, fazem rir e chorar. E o filme não deixa por menos. A tecnologia de efeitos é simples, como outros da mesma época, mas isso não prejudica em nada. Ao contrario, acho que imprime mais beleza ao todo.

A história de um piloto perdido no meio do deserto, que encontra um menino que se diz um príncipe de um pequeno planeta, com apenas uma três vulcões, alguns baobás, e uma flor, tem o poder de encantar e fazer pensar. Pensar em tudo que passamos em nossas vidas. Pensar a que estamos dando valor. Em quais são as nossas prioridades. Pensar na responsabilidade que temos em relação ao outro. Na sabedoria da simplicidade.

Há muitas frases em todo o livro que nos fazem parar e pensar em tudo o que nos rodeia, mas deixo abaixo as que pra mim expressam tudo, sem precisar de mais explicações.

“Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos."

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."



domingo, 31 de outubro de 2010

Palavra

É realmente uma coisa engraçada.

Ela pode te libertar e te aprisionar. Você pode odiá-la ou amá-la, como Liesel Meminger, a protagonista do bestseller “A menina que roubava livros” do australiano Markus Zusak. Há muito tempo um livro não me fazia ter uma quantidade tão grande de emoções contraditórias. A cada página, cada capítulo, o texto por vezes sarcástico, por vezes terno e poético de Zusak, me emocionava. Chorava de raiva, frustração, pena, carinho, tristeza, alegria, revolta, amor.

A história de Liesel é contada pela Morte. Uma narradora no mínimo interessante. Ela conta como se encontrou com Liesel por 3 vezes entre 1939 e 1943, na Alemanha nazista. A partir de um livro que ela encontra na terceira vez que a vê, e que foi escrito pela própria Liesel, a Morte narra a história da menina que no enterro do irmão mais novo, em meio à neve, rouba seu primeiro livro, O Manual do Coveiro, e como as palavras guiarão os acontecimentos em sua vida a partir daí. A adoção, as primeiras vezes na escola, a adoração pelo pai adotivo, o amor pelo melhor amigo, a amizade que nasce pelo judeu escondido em seu porão, a triste realidade do seu país. Tudo isso durante suas tentativas de aprender a ler através dos livros roubados, no meio da noite com o pai, ou na meia luz de um porão com cheiro de tinta, a faz perceber o poder da palavra.

Através da palavra Hitler moveu multidões pra uma guerra sem sentido. Através da palavra Liesel conheceu a força e o poder de uma amizade que nem a guerra separou. Através das palavras de Liesel a Morte percebeu que apesar de tudo, a vida ainda valia a pena.

domingo, 20 de junho de 2010

Velhos Amores

Por coincidência, nos dois últimos livros que li, o personagem principal era masculino e nonagenário. Foi uma feliz coincidência, pois não tinha planejado isso, apenas aconteceu. Duas histórias de amor, duas histórias contadas por pessoas que viveram muito, quase tudo o que queriam. Dois homens que achavam que a vida não tinha mais nada, ou quase nada a oferecer a eles. Dois homens contando suas histórias, vivendo ou revivendo um grande amor. E tudo isso me deixou mais ansiosa ainda por escrever sobre eles.

O primeiro foi “Água para Elefantes”, da escritora canadense-americana Sara Gruen. Conta a história de Jacob Jankowski, que tem 90 ou 93 anos, como ele mesmo diz. Quando um circo se instala bem em frente à casa de repouso onde ele vive, ele começa a reviver uma história e um segredo que guardou durante anos e que nunca contou pra ninguém. Aos 23 anos, depois de perder os pais num acidente de carro, perdendo também todas as posses que tinha, ele deixa a faculdade antes de prestar os exames finais e acaba pulando no trem do Circo Irmãos Benzini. Ele acaba sendo admitido pra cuidar dos animais, sofrendo nas mãos de August, o chefe do setor dos animais. Lá ele também se apaixona por Marlena, a estrela dos números com cavalos, e esposa de August, e depois por Rosie, a elefanta aparentemente estúpida, que deveria ser a salvação do circo. O livro vai nos levando através das memórias de Jacob, que vão se entrelaçando com a vida na casa de repouso, esperando visitas de parentes que às vezes mal se lembra, convivendo com enfermeiros e outros idosos não tão lúcidos quanto ele, e a ansiosidade por poder colocar os pés num circo outra vez.

O segundo livro foi “Memórias de Minhas Putas Tristes”, do colombiano Gabriel Garcia Marques. Conta a história de um cronista e crítico musical, que em seu aniversário de noventa anos resolve se dar de presente uma noite de amor com uma virgem. Porém chegando ao bordel, encontra a menina dormindo e não tem coragem de acordá-la. Durante esses encontros, eles nunca se vêem, ela está sempre dormindo. E ele que sempre teve medo de amar, que nunca se deitou com ninguém sem pagar, se apaixona por essa menina adormecida, descobrindo o amor e o prazer na sua vida, sem nunca realmente toca-la.

Duas histórias tão diferentes com tanto em comum. Os dois viveram suas vidas da forma que acreditavam, sem arrependimentos. Jacob, não teve medo de amar, seu medo era sobre o que seu amor poderia causar nos outros, porém teve coragem e viveu intensamente seu amor pela mulher, pela elefanta, por seu trabalho de veterinário e pelo circo. O jornalista teve medo durante toda a vida e evitou o amor o quanto pôde. Porém quando este se mostrou a ele da forma mais inusitada, mesmo tão tardiamente, ele foi em frente e viveu esse amor de forma pura e comovente.

Duas histórias que mostram que amar, e reconhecer esse amor, nem sempre é fácil. Na maioria das vezes não é um conto de fadas. A vida nos leva por caminhos tortos. O que vem fácil vai fácil. O que é conquistado, com coragem, acreditando no que se quer e no que está fazendo é o que fica. E é por isso que vale a pena.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Up in the Air

Outro dia fui ver o filme Up in the Air (o título aqui é Amor sem Escalas). Eu adorei o filme... e também fiquei bem estremecida pessoalmente. O filme conta a história de Ryan Bingham (George Clooney), um consultor que tem a tarefa de demitir funcionários para cortar os gastos das empresas. O filme acompanha sua vida isolada, que é sua filosofia de vida, e as pessoas que conhece ao longo do caminho.

Eu realmente fiquei muito deprimida no começo. Ele tem suas manias e costumes, que eu, uma pessoa que moro sozinha, me identifiquei bastante. Porém, ele leva isso a uma situação tão extrema, e ele é tão confortável com essa escolha de vida dele, que fiquei assustada, me questionando se essa era uma possibilidade pra minha própria vida. É aí que entra uma funcionária com idéias revolucionárias, propondo mudanças na empresa, ameaçando acabar com sua solitária vida nas alturas. Ele luta para que isso não aconteça, mas ao mesmo tempo, ele conhece alguém, e se afeiçoa a ela, contra todas as suas regras. É quando começa a repensar seu estilo de vida.

Foi uma perspectiva interessante de se ter.

É claro que minha vida é muito diferente da dele. Ao contrário dele, eu me afeiçôo muito às pessoas, à minha família, aos meus amigos, aos meus amores. E não consigo pensar na idéia de uma vida sem a presença deles. E pretendo continuar assim. Creio que, como seres humanos, não fomos feitos pra viver sozinhos. A solidão às vezes é boa? Sim! É necessária? Muitas vezes sim!! Mas também preciso do ombro amigo pra chorar, das conversas e confidências trocadas, das risadas, das brigas e brincadeiras, dos afagos, dos abraços e beijos e todas as formas de amor possíveis.

Isso pra mim é indispensável... e é o que me faz ficar nas alturas!


http://www.youtube.com/watch?v=3NOr9YX9oOk


terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Desejos e Medos

Desejo e medo, dois sentimentos fortes e que andam lado a lado. E além deles todas as outras emoções que por eles, invadem o corpo e a mente, de forma arrebatadora, como um tornado devastando uma cidade.

O desejo de fazer a viagem dos sonhos. O medo de ficar endividado

Fazer um trabalho importante. Perder a oportunidade.

Subir no palco e sentir a responsabilidade pelo seu papel ali. Ter um branco.

Fazer diferença. Não ser levado a sério.

Ser importante pra alguém. Ser dispensável.

Ter alguém a quem você daria sua vida. Perder esse alguém.

Amar. Não amar.

Ser amado. Não ser.

Como vencer o medo? Como encarar o desafio sabendo que sou um ser humano, errático e imperfeito? Como as pessoas fazem isso? Como me entregar de corpo e alma sem o compromisso e a certeza de que vai dar certo?

Ou o medo deve vencer? Devo recuar e deixar que a calmaria se instale?

Perder aquela paisagem perfeita que só existia nos meus sonhos.

Nunca ouvir da boca de um aluno o quão importante você foi pra ele.

Não sentir aquele frio na barriga antes de entrar no palco.

Não sonhar.

Não sentir o toque, o cheiro, o calor da pessoa amada.

Nunca me apaixonar.

É uma escolha a ser feita: a ousadia ou a covardia. Viver plenamente, enfrentando as tempestades, ou passar por essa terra em brancas nuvens.

Sonhos são relâmpagos e desejos são trovões. Acabei de entrar no olho do furacão, e preciso de algo que me faça acreditar que essa vida é um longo caminho a percorrer.


"Make me an angel that flies from Montgom'ry
Make me a poster of an old rodeo
Just give me one thing that I can hold on to
To believe in this living is just a hard way to go." Angel from Montgomery, John Prine