domingo, 20 de junho de 2010

Velhos Amores

Por coincidência, nos dois últimos livros que li, o personagem principal era masculino e nonagenário. Foi uma feliz coincidência, pois não tinha planejado isso, apenas aconteceu. Duas histórias de amor, duas histórias contadas por pessoas que viveram muito, quase tudo o que queriam. Dois homens que achavam que a vida não tinha mais nada, ou quase nada a oferecer a eles. Dois homens contando suas histórias, vivendo ou revivendo um grande amor. E tudo isso me deixou mais ansiosa ainda por escrever sobre eles.

O primeiro foi “Água para Elefantes”, da escritora canadense-americana Sara Gruen. Conta a história de Jacob Jankowski, que tem 90 ou 93 anos, como ele mesmo diz. Quando um circo se instala bem em frente à casa de repouso onde ele vive, ele começa a reviver uma história e um segredo que guardou durante anos e que nunca contou pra ninguém. Aos 23 anos, depois de perder os pais num acidente de carro, perdendo também todas as posses que tinha, ele deixa a faculdade antes de prestar os exames finais e acaba pulando no trem do Circo Irmãos Benzini. Ele acaba sendo admitido pra cuidar dos animais, sofrendo nas mãos de August, o chefe do setor dos animais. Lá ele também se apaixona por Marlena, a estrela dos números com cavalos, e esposa de August, e depois por Rosie, a elefanta aparentemente estúpida, que deveria ser a salvação do circo. O livro vai nos levando através das memórias de Jacob, que vão se entrelaçando com a vida na casa de repouso, esperando visitas de parentes que às vezes mal se lembra, convivendo com enfermeiros e outros idosos não tão lúcidos quanto ele, e a ansiosidade por poder colocar os pés num circo outra vez.

O segundo livro foi “Memórias de Minhas Putas Tristes”, do colombiano Gabriel Garcia Marques. Conta a história de um cronista e crítico musical, que em seu aniversário de noventa anos resolve se dar de presente uma noite de amor com uma virgem. Porém chegando ao bordel, encontra a menina dormindo e não tem coragem de acordá-la. Durante esses encontros, eles nunca se vêem, ela está sempre dormindo. E ele que sempre teve medo de amar, que nunca se deitou com ninguém sem pagar, se apaixona por essa menina adormecida, descobrindo o amor e o prazer na sua vida, sem nunca realmente toca-la.

Duas histórias tão diferentes com tanto em comum. Os dois viveram suas vidas da forma que acreditavam, sem arrependimentos. Jacob, não teve medo de amar, seu medo era sobre o que seu amor poderia causar nos outros, porém teve coragem e viveu intensamente seu amor pela mulher, pela elefanta, por seu trabalho de veterinário e pelo circo. O jornalista teve medo durante toda a vida e evitou o amor o quanto pôde. Porém quando este se mostrou a ele da forma mais inusitada, mesmo tão tardiamente, ele foi em frente e viveu esse amor de forma pura e comovente.

Duas histórias que mostram que amar, e reconhecer esse amor, nem sempre é fácil. Na maioria das vezes não é um conto de fadas. A vida nos leva por caminhos tortos. O que vem fácil vai fácil. O que é conquistado, com coragem, acreditando no que se quer e no que está fazendo é o que fica. E é por isso que vale a pena.